Monday, May 28, 2007

Nuances

Graças ao deleitério de minha doce conexão e ao excesso de trabalhos de expressão gráfica e representação técnica não consegui escrever nada no dia 26, data oficial do nascimento do 667. Uma pena, mas deixei um post especial reservado para hoje, com algumas apreciações que eu tive, muito diferentes. é grande mas vale a pena. me valeu como um banho de água fria pra eu ver como são as coisas.


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Conversa no ônibus

Não há nada pior que greve metroviária. Eu não uso metro, mas aqules que dependem devem sentir pior que eu. Eu dependo de coletivo urbano, e quando os motoneiros (é assim o nome de quem dirige o metrô?) entram em greve minha vida vira um caos.
Tenho 16 opções diferentes de ônibus, dentre as quais 2 passam sempre vazios e custam R$2,00. 5 Passam vazios e custam R$2,40. Os outros passam transbordando gente. Eu pacientemente espero meu ônibus vazio de R$2,00 para ir para a escola, porém quando o metrô para não há onibus que passe vazio, a não ser que voce tenha muita sorte e não adianta paciência, tem que ter sorte e um pouco de maldade de ver a disância qual onibus vai passar vazio.
Quarta feira teve greve de metro em BH, e claro eu não sabia. então estranhei os onibus todos cheios, inclusives minhas opçoes de comodismo e economia. só soube da greve quando um cara ao meu lado reclamou comigo da greve (ele também utiliza meu artifício para ir pra federal sentado). Bom eu fiquei desesperado e observando qual ônibus ia passar vazio, quando eu vi um ônibus de R$2,40 vindo sem ninguém em pé. Resolvi pagar um pouco a mais e ir sentado.
Bom paguei R$0,40 a mais e tinha apenas 1 lugar sentado, pois nos outros 3 um ser bêbado e fedendo a cola gentilmente vomitou. Ai eu percebi que este ônibus vinha da pedreira, uma favela um pouca assima da lagoinha.
Bom não tenho problemas quanto a isso, e ando nos supletivos (que entram nas favelas) sempre, já que custam R$2,00 e geralmente vem vazios. E nem ligo muito pra cheiradores de cola e vomitões de ônibus. Voltando ao quiprocó, senteime na única cadeira vazia, bemno fundo, sabe aquelas últimas, ao lado de dois senhores de idade e dois garotos de no máximo 15 anos. Um era muito estranho e feio e tinha saliva escorrendo pela boca enquanto falava, que deixava a boca brilhante. era negro, tinha dreds no cabelo e usava uma camisa do são paulo. o outro tinha traços muito bonitos, estava mal cuidado e com o bigode nascendo que deixava uma má impressão, mas era muito bonito, tinha o cabelo grande e anelado e usava uma camisa do fluminense.

eles moravam na pedreir a econversavam muito, com muita naturalidade e expontaneidade. o transito estava um caos e fiquei quase uma hora dentro do ônibus, para andar 3 km. Então pude escutar muita coisa dos meninos, e parecia que eles falavam me provocando, por eu estar bem vestido ne com material de escola, já que eu ia pra faculdade.
Fiquei um pouco assutado no começo, mas logo depois me interessei no assunto. falavam sobre a favela e seus habitantes, um universo sempre muito obscuro e distante de mim, o que eu conhecia conhecia pelo que os outros contavam, nunca pelo que quem mora conta. eles falavam de traição e tráfico. uma vez envolvido nisso vc deve fidelidade, se não eles te apagam. um deles estava envolvido nisso (o bonito), e ambicionava contatos para enriquecer mais rápido, já que o dinheiro circulava pouco e o trabalho consumia muito tempo, de tal forma que não sobrava tempo pra roubar. Mas estava feliz já que já estava trabalhando em outro lugar, onde conseguiria mais contatos com traficantes melhores. um amigo dele que havia sido transferido pra área dele havia comprado um carro, um sítio e agora era sócio, morava em são paulo e coordenava tudo por lá.
o outro perguntou se era difícil conseguir contatos, ele disse que não, mas tinha uns caras que eram muito egoistas e não passavam as finas, e também ele já tinha uma arma, a hora que quisesse apagava um e pegava a boca pra ele, não que fosse fácil assim, mas ele já esta mais protegido.

um vizinho dele saiu da cadeia na semana anterior, voltou todo deformado. os policiais agrediram muito ele quando pegaram ele num ablitz, ele foi pro joão XXIII e ficou internado, depois saiu direto pra cadeia, e ficou 2 anos até conseguir liberação por causa da sude, o cara voltou doido, e prometeu vingança. matou um outro vizinho, achando que a culpa tinha sido dele. mas esse cara deformado é forte no morro, e ninguem meche com ele, e tá todo mundo comedo, de menos ele, ele tem um revolver, e isso dá segurança.
a mãe dele pediu pra ele parar com isso, e principalmente pra largar o vício, já que ia acabar consumindo a mercadoria e isso dá morte, já que ele não ia ter dinheiro pra pagar, mas ele mandou ela ficar tranquila e não se meter, ele consumia de outra boca, onde o pó era fino e sem mármore, era mais caro, mas fazia menos mal. e se a mãe desse no saco dele e le tb apagava ela, agora ele tinah que investir nele, ele tava novo, precisava de crescer, e só assim pra ficar rico.
nessa hora ele virou pra mim e dise: "estudar só sendo filhinhho de papai, pq no morro quem tem estudo dança, dá de tentar salvar o mundo e fala mais do que deve. voa fácil, nego estudado não tem maldade. e eu sou mau, mau mesmo. quero é grana e não salvar o mundo."

fiquei na minha, poderia iniciar um discurso sobre educação ali, mas não. eu concordo com ele. ele precisa é de dinheiro mesmo. não sei se essa é a forma mais pratica de se conseguir grana, mas é a mais rentável. quase descendo do onibus descobri pq ele precisava de grana. ia ser pai. ele e o outro. o outro tava no começo da gestação e ele já no 7º mês. precisava de grana rápido. a criança tava chegando.
o outro tb ia precisar, mas ele achava que roubando conseguia um tanto bom. e a mãe tb tem q trabalhar o filho tb é dela.

acho que me indentifiquei mais com o outro, que não ia trabalhar muito pra sustentar talarica como ele diz (bem típico de mim, acho que a mãe tem que trabalhar também), mas o coração do que trafica é maior. queria que a mãe só cuidasse da criança, já que ele queria um futuro bom pra ela. lugar de criança é com amãe, e mãe que se vire. ele queria era grana.

desci do ônibus, com uma visão diferente das coisas. o mundo é bom sebastião. e todo mundo trabalha, licito ou não, as pessoas querem melhorar de alguma forma. esse mundo ainda tem jeito, é só a gente dá chance as pessoas certas. as pessoas querem melhorar, e a tônica de ser lobo do proprio homem é aplicável em qualquer lugar. minah revolução social não preve mudar as pessoas, nem o lugar em que elas vivem. queria só pintar as casas, pras pessoas olharem prum morro mais alegre, e ver que ali também s erespira captalismo selvagem, onde todo mundo quer é ficar rico.

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